Duplamente afetados: povos indígenas no Para e Amapá enfrentam a pandemia, fome e invasão de seus territórios em isolamento social

Por ADI Sefaz – CIMI

 

Agosto, 2020 – Com seis meses de isolamento social e de avanço do novo coronavírus às aldeias, o desafio de encontrar medidas para enfrentar a pandemia e a invasão dos territórios permanece intenso. Ainda em março, as equipes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Norte II, que corresponde aos estados do Pará e Amapá, por medida de segurança, se distanciaram dos territórios indígenas, mas não dos povos.

Com a decisão de paralisar as atividades de forma presencial nos territórios, mesmo estranhos à realidade imposta com o isolamento, a maior preocupação levantada pelas equipes do Cimi nos dois estados foi a subsistência nas aldeias. O levantamento de quantas cestas básicas seriam necessárias para amenizar a chegada da fome junto com a pandemia nos territórios foi o primeiro passo. Sem condições de arcar com todas as despesas financeiras, pois também se fazem necessários itens de higiene e proteção individual, a estratégia foi criar uma rede e fortalecer as articulações com organizações parceiras, com o objetivo de somar os esforços no enfretamento à covid-19 junto aos povos indígenas e fazer o monitoramento do vírus nas aldeias.

Ao todo, o Regional Norte II do Cimi conta com sete equipes, e junto com essa rede fez chegar quase duas mil cestas básicas aos povos que vivem nas aldeias e em contexto urbano. Dada a urgência, a prioridade na entrega das cestas básicas “foram as famílias que tinham anciões, mulheres com crianças e gestantes”, explica Haroldo Pinto, coordenador do Regional.

Os alimentos também chegaram aos estudantes indígenas da Universidade Federal do Pará (UFPA), que não puderem retornar aos territórios. A presidente da Associação do Povos Indígenas Estudantes na UFPA (APYEUFPA), Virginia Arapaso, resume a importância desse gesto para os estudantes. “Gratidão ao Cimi pela assistência aos que ficaram aqui em Belém. Agradeço imensamente a todos pelas doações, contribuiu muito conosco”.

A covid-19 nos territórios

Quanto mais próximo dos centros urbano vivem os povos indígenas, maior tem sido os desafios no enfretamento ao novo coronavírus. Expulsos de seus territórios e com atendimento de saúde precarizado, as comunidades têm denunciando a pouca atuação da Sesai, a falta de teste e o estado precário das Casas de Saúde do Índio (CASAIs). Seis meses se passaram e o governo federal ainda não adotou nenhum Plano Emergencial de combate à pandemia junto aos povos.

Na Terra Indígena (TI) Trocará, do povo Assurini, por exemplo, “a covid-19 deixou seu rastro de morte entre as lideranças. O cacique Puraque, sua irmã Iranoa Assurmi, Vanda Assurini e Sacamirame Assurini perderam a batalha para a doença”, conta Paulo.

À medida que o vírus avança nos territórios, a estratégia adotada por boa parte dos povos foi ir para o interior das áreas, para a mata. Registro feito no Baixo Tapajós. Foto: CITA

A situação é ainda pior entre os indígenas do povo Warao. Imigrantes venezuelanos, algumas famílias contam o apoio e solidariedade do grupo criado pelo bispo Auxiliar de Belém, Dom Antonio de Assis Ribeiro. Outros Warao estão em abrigos da prefeitura de Belém com assistência do governo do estado. Porém, muitos moram em casas alugadas, “inclusive 23 famílias que vivem em Ananindeua (PA) estão em uma área onde foi planejado a construção de um porto, a área alaga durante o inverno”, conta Haroldo. O terreno foi cedido pela Associação de Moradores do Residência Cidadania e por ser as margens do Maguari tornasse um risco a parte, já que o rio dá acesso as onze ilhas que estão dentro da área territorial de Ananindeua.

Link do texto Original – https://cimi.org.br/2020/08/duplamente-afetados-povos-indigenas-no-para-e-amapa-enfrentam-a-pandemia-fome-e-invasao-de-seus-territorios-em-isolamento-social/

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