Pesquisadora da FGV ENERGIA analisa resultado divulgado pela ANP: “Ainda somos dependentes do óleo importado”

Julho, 2017 – Os dados divulgados hoje pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indicam que as exportações de petróleo em 2016 totalizaram 798,2bbl/d, o maior volume exportado até agora pelo Brasil. Como a produção nacional aumentou, em 2016, o Brasil reduziu a necessidade de importação de petróleo em 44,9%, para uma média diária de 178,6 mil barris. Para a pesquisadora da FGV ENERGIA, Fernanda Delgado, mesmo com todo o promissor potencial do pré-sal e com a dita autossuficiência nominal, ainda somos dependentes do óleo importado.

Arquivo ANP / Créditos: Eduardo Moody

“Mais da metade da produção nacional hoje ainda é composta de correntes pesadas, das quais derivam, a partir de um processo de refino convencional, produtos mais pesados como asfaltos, por exemplo. De qualquer forma, se pode extrair gasolina e diesel de óleo pesados, entretanto, os esquemas de refino necessários para isso são mais caros, e em certa medida, ainda não largamente utilizados em nosso parque”, explica Fernanda Delgado.

A pesquisadora da FGV ENERGIA ressalta que atualmente, a capacidade total de refino do país é aproximadamente 2,3MMbbl/d em 17 refinarias existentes. Desse total, advém 45% de diesel, 22% de gasolina, 10% de nafta petroquímica, 9% de GLP, 6% de querosene de aviação e 5% de óleo combustível, sendo menores os percentuais de asfaltos, coque e solventes.

“Dessa forma, para que se atinja o mix de derivados utilizados no Brasil ainda é necessário importar óleo de correntes leves que, ao se somarem às pesadas correntes nacionais, proporcionam um blend específico de óleos capaz de produzir os derivados de que precisamos. É necessário agora, com quase 50% de óleo leve em nossa produção, readequar o parque de refino, modernizá-lo de forma a aumentar a capacidade de conversão de óleos leves”, destaca a especialista.

Gás – Fernanda Delgado analisa que para o mercado de gás as questões são um pouco mais complexas. Segundo ela, o Brasil importa gás natural da Bolívia há 17 anos, sendo toda negociação feita pela Petrobras, que compra e distribui. Além disso, o país compra GNL de vários países muito em função das intermitências do setor elétrico.

“Com a proximidade do vencimento de um dos contratos da Bolívia, somada à entrada de novos agentes no mercado de gás brasileiro, o setor começa a dar sinais de mudanças. Enquanto o aumento da produção nacional não ocorre, a iniciativa governamental chamada Gás para Crescer pretende melhorar o ambiente regulatório, permitindo a entrada de novos players, investimento em infraestrutura, ampliação de gasodutos e terminais de armazenamento e regaseificação”, explica a pesquisadora da FGV ENERGIA.

A especialista diz ainda que muitos são os desafios técnicos e econômicos para o aproveitamento comercial do gás do pré-sal. Dentre eles, está o acesso ao mercado de gás natural. De acordo com Fernanda Delgado, é importante destacar ainda que existem especificidades técnicas do gás do pré-sal que resultam em elevados custos de oferta. Entre eles: os altos níveis de contaminação de CO2 e a grande distância da costa implicam em elevados custos de separação do CO2 e escoamento do gás.

“O cenário que se avizinha mostra uma manutenção dos níveis de gás importado, seja via gasoduto da Bolívia, ou da Argentina, que já demonstrou interesse no mercado brasileiro a partir do aumento da produção via shale do play de Vaca Muerta, ou via GNL”, aponta Fernanda Delgado.

 

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