Por Pedro Celestino, Presidente do Clube de Engenharia
O recentemente anunciado Plano Estratégico da Petrobras para o período 2017 a 2021 propõe drástica redução da alavancagem da empresa, com o objetivo de “acelerar a sua recuperação financeira no menor prazo possível”.
Trata-se de proposta conveniente para justificar o desmonte da empresa, através de “parcerias e desinvestimentos que nos próximos dois anos deverão somar US$ 19,5 bilhões. Esse resultado deve ser atingido por meio de crescentes parcerias estratégicas na área de Exploração e Produção, além de Refino, Transporte, Logística, Distribuição e Comercialização. A Petrobras também sairá das atividades de produção de biocombustíveis, distribuição de GLP, produção de fertilizantes e das participações em petroquímica. No segmento de gás, a estratégia é adequar a participação da companhia e, no setor de energia, reorganizar as participações societárias”. Em suma, o objetivo central do Plano é reduzir a Petrobras à condição de mera produtora de óleo bruto e de gás, não integrada, nem verticalizada.
É inegável que a Petrobras enfrenta hoje uma crise decorrente da queda de cerca de 60% nos preços do petróleo desde meados de 2014, que afeta o seu faturamento; da volatilidade do câmbio, que afeta o seu endividamento externo; do represamento do preço de venda dos combustíveis até 2015, que sangrou seu caixa; e dos saques que sofreu nos últimos tempos, que afeta a sua credibilidade. Ao grave quadro econômico, vem se juntar a instabilidade política presente no País.
Desde a gestão anterior, a direção da empresa passou a cortar despesas de custeio (pela renegociação de contratos e redução de funções gerenciais, por exemplo), e a postergar ou eliminar investimentos. Dispôs-se também a colocar à venda, com critérios discutíveis, parte de seus ativos, muitos deles estratégicos para uma empresa de petróleo integrada. Exemplo disto é a venda, há pouco concretizada, da participação da empresa no campo de Carcará, um dos melhores dos descobertos até aqui no Pré-Sal, por preço vil, à Statoil.
Desinvestimentos em si, tal como investimentos, são naturais na indústria do petróleo. Critica-se, sim, a venda do que é estratégico para o futuro da empresa. Por que, por exemplo, não se desfazer dos ativos no exterior, adquiridos antes da descoberta do Pré-Sal? Ora, o maior ativo da Petrobrás, associado à competência de seu quadro técnico, responsável pelas suas reservas de óleo e de gás, é o mercado interno brasileiro, onde a empresa investiu bilhões de reais na construção de oleodutos, gasodutos, terminais, fertilizantes, petroquímica, retalho de combustíveis. Vender ou abrir participação nesses bens é destruir a integralidade do sistema industrial da empresa e sacrificar a sua sustentabilidade a longo prazo, o que implicará perda do valor de mercado da empresa.
O Plano corta em 25% os investimentos programados para o período em tela e concentra os dispêndios na área de produção de óleo e de gás. Traz como conseqüência a fragilização da empresa, já que reduzir ao mínimo a atividade exploratória é a véspera da queda na produção. Não fosse o excelente desempenho no Pré-Sal, que já é responsável por mais da metade da produção nacional, a situação seria ainda mais alarmante, pois estaríamos a importar hoje cerca de 400.000 barrís de petróleo por dia.
Apesar de reconhecer a sua eficiência operacional, ao destacar indicadores como a redução no de construção de um poço marítimo na área do Pré-Sal da Bacia de Santos e o custo médio de extração abaixo de US$ 8 por barril de óleo equivalente (boe), muito inferior à média da indústria, que oscila em torno de US$ 15/boe, o Plano tende a deixar a empresa cada vez mais dependente de prestadoras de serviços contratadas, já que propõe continuar a reduzir pessoal, através de Planos de Demissões Voluntárias e a suspender novos concursos – providência indispensável para a preservação da memória técnica da empresa.
Por outro lado, o Plano se fixa em parcerias supostamente estratégicas, apenas para capacitar os parceiros a se apropriarem dos conhecimentos tecnológicos adquiridos pela empresa ao longo da sua história. Seria estratégica uma parceira com a Statoil norueguesa, detentora de grandes conhecimentos em exploração e produção de petróleo e de gás em águas profundas, já que as reservas do Mar do Norte estão em declínio e ela necessita, tal como as demais petroleiras, de novas áreas para explorar. Jogou-se fora essa oportunidade, através da simples venda de Carcará. A Statoil já anunciou ao mundo que o Brasil passou a ser o seu foco prioritário e, para desenvolvê-lo, não necessitará da Petrobras. A visão equivocada da direção da empresa, mais uma vez, não atende ao interesse dos seus acionistas, pois deprecia o valor dos seus ativos.
Acresça-se a este quadro as reiteradas declarações do presidente da Petrobras minimizando a importância do Pré-Sal, a maior reserva descoberta no mundo nos últimos 30 anos. Depreciar este ativo, ainda que, por absurdo, o objetivo seja vendê-lo, não atende aos interesses dos acionistas da empresa.
Torna-se, pois, evidente que a atual direção da Petrobras não age em benefício dos seus acionistas, nacionais e estrangeiros. Amesquinhar o papel da empresa não é o melhor caminho para que dê bons dividendos. Em síntese, trata-se de gestão temerária.