Os desafios do presidente interino Michel Temer e os erros da presidente afastada, Dilma Rousseff, deram a tônica do primeiro painel do 88º ENIC (Encontro Nacional da Indústria de Construção), que se propôs a debater o crescimento sustentado e reformas que o país precisa implementar.“O próximo presidente tem que vir a público dizer que estamos em uma emergência fiscal”. A avaliação é do economista e consultor internacional de negócios, Cláudio Frischtak, que proferiu palestra na manhã da quinta-feira (12).
O evento, promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), com realização do Sinduscon Paraná-Oeste, acontece em Foz do Iguaçu (PR) e reúne especialistas e representantes da indústria. Nos debates, que envolvem as Comissões Técnicas da CBIC e co-realizados com o SENAI Nacional e SESI Nacional, são discutidas propostas para ajudar o setor e o Brasil a saírem da crise econômica atual.
Para Frischtak, o novo governo de Michel Temer tem a chance de construir as pontes para atrair os investimentos que o Brasil precisa para voltar a crescer. Ele elogiou os nomes que foram apresentados até agora para compor a nova equipe, avaliando que eles são um quadro “razoável” para enfrentar a crise que o país enfrenta. O principal nome na área econômica será Henrique Meirelles. O ex-presidente do Banco Central, comandará o Ministério da Fazenda.
Na avaliação do economista, os grandes desafios do governo Temer serão estabilizar a trajetória da dívida pública, conter a alta do desemprego e retomar o crescimento econômico. Para isso, destacou, precisará já reverter o discurso da presidente afastada Dilma Rousseff, que, na avaliação dele, jamais reconheceu o tamanho da crise nas contas públicas.
Em outro painel, o cientista político e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Marcus Melo, avaliou que Temer terá dois “tsunamis” para enfrentar em seu governo: a operação Lava-Jato, que investiga desvios na Petrobras e que já teve o seu nome citado, além do processo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que investiga recursos destinados à campanha de Dilma e Temer em 2014 e pode culminar na cassação de seu mandato. “Temer irá governar uma ilha tropical sujeita a tsunamis”, comparou.
Por outro lado, Melo destaca que Temer poderá se aproveitar de um clima de boa vontade com relação ao governo e, sobretudo, terá na ponta da língua o argumento de que a atual crise que assola o país é de responsabilidade do governo anterior ao seu. “Temer terá o efeito de poder deslocar a culpa”, destacou.
Também presente, o sócio fundador da GO Associados, Gesner Oliveira, avaliou que caso Temer leve a cabo uma série de ações como a reforma política, o ajuste fiscal, estabelecimento de planos de longo prazo para as finanças, um salto de governança, retomada de acordos comerciais e mobilização do capital privado, o Brasil poderá retomar o crescimento já no ano que vem.“Há uma boa perspectiva de uma modesta recuperação da economia em 2017. Não haveria razão para uma queda continuada”, observou.
Dilma
As ações desenvolvidas pelo governo de Dilma Rousseff foram duramente criticadas ao longo do painel. Sobretudo, a deterioração das contas públicas e explosão da relação entre a dívida pública e o PIB (Produto Interno Bruto).“Temos uma dívida pública explosiva. Se olharmos essa trajetória, partimos em 2012 de algo em torno de 53% a 54 %. Estamos encaminhando até o final do mandato atual para próximo de 90% em 2018”, afirmou Cláudio Frischtak. “Tivemos uma expansão do ciclo de consumo para o qual foi muito importante o crescimento do crédito. Porém, não houve nenhuma contrapartida do ponto de vista da infraestrutura”, criticou Gesner Oliveira.Também o discurso do governo, segundo o qual o impeachment é um “golpe” foi duramente criticado no evento. “Isso é desonestidade intelectual e oportunismo político. O que aconteceu nos últimos anos foi a destruição das contas públicas, esse foi o crime de responsabilidade fiscal cometido por esse governo.”
Fonte: Boletim CBIC