Comissão Nacional e Ministério Público do Trabalho lançam campanha contra mudança na lei do trabalho escravo

Iniciativa busca conscientizar a população brasileira sobre a gravidade e a recorrência da escravidão no Brasil, ao mesmo tempo em que combate os projetos que tramitam no Congresso Nacional que, se aprovados, poderão facilitar a ocorrência de novos casos.

A campanha foi lançada ontem, 28 de janeiro, Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, com a presença do ilustre Kailash Satyarthi, vencedor do prêmio Nobel da Paz de 2014 e referência mundial por sua militância no combate à prática.

A Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo e o Ministério Público do Trabalho anunciaram o lançamento da #SOMOSLIVRES, campanha nacional de prevenção e informação sobre a escravidão contemporânea. A iniciativa busca chamar a atenção para a gravidade do problema no Brasil, além de lutar contra mudanças propostas em projetos de lei, atualmente em trâmite no Congresso Nacional, que, se aprovadas, irão flexibilizar a definição de trabalho escravo em território brasileiro e facilitar a ocorrência de novos casos.

A campanha se baseou em uma recente e alarmante pesquisa realizada pela Ipsos, a pedido da Repórter Brasil, que identificou que a maioria dos brasileiros não sabe responder com clareza o que caracteriza uma situação de escravidão. O levantamento aponta ainda que 27% afirmam diretamente não saber do que se trata o tema.

“Percebemos que existe hoje uma grande confusão sobre o conceito de trabalho escravo, em especial no que se refere a condições degradantes e jornada exaustiva. Falta consciência sobre a gravidade da situação, que é muito mais séria do que ter alguns direitos trabalhistas desrespeitados ou receber uma remuneração baixa. Estamos falando, por exemplo, de ameaças de violência física e psicológica, condições degradantes de trabalho, servidão forçada por dívida e jornadas exaustivas que comprometem até mesmo a vida do indivíduo”, explica Christiane Vieira Nogueira, da Coordenação Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério Público do Trabalho em São Paulo.

Desde 1995, quando o governo brasileiro reconheceu a existência do trabalho escravo no país, cerca de 50 mil pessoas foram resgatadas por meio de operações de fiscalização do Estado em atividades ligadas à agropecuária, ao extrativismo, à produção de roupas, à construção civil, ao comércio e à exploração sexual. “Existe ainda a necessidade de alertarmos para a existência do trabalho escravo urbano, cuja relevância vem crescendo muito nos últimos anos. Infelizmente grande parte dos brasileiros ainda acredita que isso só acontece em zonas rurais”, afirma Silvio Brasil, coordenador da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae).

link tem vídeo de apoio do Wagner Moura:  https://www.youtube.com/watch?v=hljxfBmjRUY&feature=youtu.be

APRESENTAÇÃO E LANÇAMENTO

O lançamento oficial da campanha #somoslivres aconteceu em São Paulo, em um evento que também contou com o apoio da Organização Internacional do Trabalho, da Comissão Estadual para a Erradicação do Trabalho Escravo de São Paulo, da Comissão Municipal para a Erradicação do Trabalho Escravo de São Paulo e da ONG Repórter Brasil. O encontro aconteceu no dia 28 de janeiro, Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, e contou com a presença de importantes ícones da luta contra o trabalho, como Kailash Satyarthi, prêmio Nobel da Paz de 2014, a atriz Camila Pitanga, presidente do Movimento Humanos Direitos, Lélio Bentes, ministro do Tribunal Superior do Trabalho, Luiz Machado, coordenador do programa de combate ao trabalho escravo da Organização Internacional do Trabalho, entre outros. Na ocasião também foi detalhado o estudo que mostra a percepção do brasileiro sobre o tema.

 Kailash Satyarthi, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2014 e apoiador da campanha, contou sua experiência no combate à escravidão em diversas partes do mundo. Nascido na Índia, ele é um dos líderes do movimento global contra o trabalho infantil e o trabalho escravo, tendo libertado mais de 83 mil crianças e milhares de adultos em seu país natal. Também desenvolveu um modelo de sucesso para educação, reabilitação e reintegração das vítimas, e seus esforços levaram à adoção da convenção sobre as piores formas de trabalho infantil pela Organização Internacional do Trabalho.

MECÂNICA DA AÇÃO

A campanha #somoslivres busca envolver o público na causa da erradicação do trabalho escravo por meio de ações de engajamento e ativação nas mídias online e off-line. “Queremos gerar nas pessoas uma conexão emocional com o tema por meio da aproximação dos conceitos que definem o trabalho escravo moderno com o papel que todos possuem nessa jornada”, explica Bruno D’Angelo, vice-presidente da agência Ideal H+K Strategies, responsável pela concepção do projeto. “O ponto de partida e também a proposta central da campanha é convidar o indivíduo a pensar a partir do questionamento: “qual foi o seu pior dia de trabalho?”’, comenta D´Angelo.

“Entendemos que a liberdade deveria ser uma certeza na vida do ser humano. No trabalho, todo mundo consegue se lembrar de algum dia em que não se sentiu completamente livre, mas está longe de ser trabalho escravo. A ideia é aproveitar essa memória como ponto de partida para uma reflexão maior, mostrando o que realmente significa ser escravizado”, finaliza Bruno.

Os indivíduos impactados pela campanha, que também explorará ao máximo a hashtag #somoslivres nas redes sociais, serão direcionados a um hub online de ferramentas e informações sobre como ajudar no combate ao trabalho escravo no Brasil, disponível no site: www.somoslivres.org

Como primeira ação, eles poderão atuar no combate à tentativa de redução do conceito legal de trabalho escravo, entrando em contato diretamente com parlamentares por meio de e-mails ou outros canais disponíveis no site.

“Por meio dessa campanha esperamos conduzir o público a confrontar situações concretas de abuso, levando-o a concluir por si só o quanto o trabalho escravo é um crime muito mais grave do que costumamos imaginar”, conclui Christiane Vieira, do Ministério Público do Trabalho (MPT).

Fonte: Assessoria de Imprensa  MPT

 

 

 

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