Acessibilidade x Inclusão: arquiteta explica a diferença e reforça a importância do desenho universal nas empresas

Outubro, 2021 – Se é verdade que o ambiente corporativo precisa ser adaptado às necessidades de todos os colaboradores, também é preciso ter em mente que ser acessível, com rampas e elevadores, por exemplo, é um começo, mas não é suficiente. Os espaços precisam ser efetivamente inclusivos e garantir a acessibilidade a qualquer local do ambiente de trabalho, seja para uma pessoa com deficiência ou não. A este conceito, dá-se o nome de desenho universal.

Segundo Denise Moraes, diretora de criação da AKMX Arquitetura e Engenharia, o desenho universal não separa a estrutura de pessoas com deficiência ou limitações da estrutura de pessoas em plenas condições físicas. “O desenho universal garante que todos os espaços e objetos sejam utilizados por qualquer pessoa. A altura da maçaneta, por exemplo. Com este conceito, ela será projetada para ser alcançada tanto por uma pessoa de altura normal quanto por aqueles com algum tipo de limitação, como uma pessoa com nanismo”, explica.

Ainda de acordo com Denise, o ideal seria que todos os designers e arquitetos expandissem seus projetos para o desenho universal e, assim, não haja mais segregações. “Nos projetos de hoje, não é necessário mais fazer um banheiro especial para cadeirantes. Os profissionais podem muito bem desenhar um banheiro que possa ser utilizado por todos, inclusive por pessoas sem deficiências”, explica a arquiteta.

Quando se fala em inclusão, é preciso levar em conta também pessoas com problemas cognitivos, autismo, Síndrome de Down, problemas de visão, questões de gênero e até quem está com alguma condição temporária, como uma perna quebrada. Ou seja, é um universo muito maior do que apenas aquelas questões abordadas nas leis de acessibilidade.

Quanto custa para tornar um edifício acessível?
Esta é uma pergunta que ainda gera muitas dúvidas, especialmente nos empregadores. Quando se fala em construir um prédio do zero, este processo é muito mais fácil, pois os espaços já são projetados seguindo todas as regras necessárias. Mesmo com todas as questões de acessibilidade e itens como corrimões, rampas, pisos táteis e elevadores, a diferença de custo é de 0,5% a 1% apenas de um prédio construído sem estes itens, e o prejuízo pode ser bem maior no futuro.

“Se o dono do imóvel for fazer uma obra para adaptar um prédio onde não foram levadas em consideração essas questões de acessibilidade, isso pode sair muito caro, pois é preciso demolir e fazer novas instalações. Muitas vezes, por questão de condições físicas locais, é até necessário construir espaços independentes para pessoas com deficiência, o que, além de um alto custo, gera também uma segregação destas pessoas. Ou seja, você torna o espaço acessível, mas não inclusivo”, reforça Denise.

É importante salientar que cada caso deve ser avaliado individualmente e que seja aplicado o projeto mais viável às condições físicas do imóvel para que as estruturas não sejam prejudicadas. A norma NBR 9050, que trata de acessibilidade na construção civil, possibilita, em alguns casos, que sejam feitas apenas instalações que tornem os espaços acessíveis, e não a reforma inteira dos ambientes.

Banheiros unissex
Hoje em dia, muito se tem discutido a questão dos banheiros unissex, ou seja, que podem ser compartilhados por homens e mulheres, e muitas empresas já têm aderido a este modelo. Porém, de acordo com Denise, é proibido por lei ter apenas este tipo de banheiro em um local. É preciso ter também banheiros separados por gênero para que ninguém se sinta desconfortável.

“A AKMX desenvolveu alguns projetos com banheiro unissex, masculino e feminino. No unissex, qualquer pessoa, independentemente de gênero, pode usar, e ninguém pode se sentir incomodado. Então, uma pessoa mais conservadora, que não quer dividir a pia com alguém de outro gênero, terá um banheiro em um local separado para utilizar”, salienta a arquiteta.

Cases de sucesso
A AKMX é um escritório que trabalha com interiores, partindo de um edifício já construído, e, em muitos projetos, foi necessário fazer adaptações para atingir a acessibilidade. “Atualmente, um de nossos clientes é uma empresa de telecomunicações do Rio de Janeiro em prédios muito antigos (entre 40 e 50 anos), com limitações físicas muito grandes. Porém, estamos realizando a adaptação para que se tornem acessíveis”, conta Denise.

Para isso, serão derrubadas escadas e instaladas rampas, elevadores e plataformas elevatórias, além de ajuste de portas e corredores, tudo para garantir que, na eventualidade de contratação de alguém com alguma deficiência ou de receber algum visitante com limitações, tudo esteja acessível. Uma das grandes mudanças para este cliente foi a interligação entre os prédios por passarelas suspensas, facilitando o acesso a todos, inclusive por quem usa cadeira de rodas.

Outro case foi para uma agência de atendimento ao público de uma empresa de energia elétrica. A ideia inicial era ter banheiros masculino, feminino e um separado para cadeirantes. Após analisar todo o prédio, a equipe da AKMX projetou dois banheiros agender e universais, que pudessem ser utilizados por qualquer pessoa, inclusive para pais com crianças pequenas.

Além disso, as mesas da agência também foram pensadas para receber todo mundo. Ou seja, uma pessoa com cadeira de rodas não vai ter um atendimento especial, com uma mesa feita para aquela situação. Ele vai ser atendido em qualquer lugar, por qualquer funcionário da empresa. “É este caminho que queremos seguir: pensar no projeto como um todo, desde o princípio, para que seja funcional e inclusivo”, ressalta Denise.

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