Racismo ambiental e direito à cidade são pontos de discussão para arquitetos

O espaço urbano como palco de disputas históricas e lutas sociais é tema no CAU Podcast

Novembro, 2025 – O CAU Podcast, promovido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU//BR) lançou o episódio “Na berlinda da metrópole: racismo ambiental, gentrificação e a luta pela moradia”, que reuniu arquitetos, urbanistas e pesquisadores negros para discutir como o racismo estrutural molda as cidades brasileiras e como a presença desses profissionais transforma o modo de pensar o território.

Mediado pela arquiteta e urbanista Gizelle Rosa, o episódio destaca que o espaço urbano é palco de disputas históricas, onde desigualdade, segregação e especulação imobiliária não são fenômenos espontâneos, mas consequências diretas de decisões planejadas.

A mestra em sociologia e pesquisadora das questões raciais Hainra Asabi reforça esse ponto ao afirmar que “as cidades são planejadas, inclusive para fazer com que haja uma especulação imobiliária no caminho para a periferia”. Segundo ela, basta percorrer o trajeto entre o centro e as bordas metropolitanas para perceber como o mercado se movimenta estrategicamente para deslocar populações vulnerabilizadas.

Hainra também provoca uma reflexão sobre o imaginário social construído para crianças negras e os limites que lhes são impostos: “o que uma jovem criança negra é capaz de sonhar? Ela sonha com aquilo que é apresentado a ela. Muitas vezes, ela consegue enxergar um professor ou assistente social, mas o arquiteto ainda não aparece nesse imaginário”. Essa ausência simbólica, segundo ela, é parte da estrutura de exclusão que afasta essas crianças de ocupações historicamente elitizadas.

A ex-presidente do CAU/BA Gilcinéa Barbosa observa, no entanto, uma mudança importante na formação dos futuros profissionais, destacando que “hoje a gente percebe claramente a diferença do perfil do aluno arquiteto”. Para ela, o ingresso de estudantes de origem periférica começa a transformar a arquitetura brasileira por dentro, o que traz novas perspectivas para projetos sociais, iniciativas de assistência técnica e abordagens mais sensíveis aos territórios.

O debate também abordou a representatividade nos espaços institucionais da profissão. Nadir Moreira, MBA em gestão de impactos ambientais e com atuação no CAU/SP e CAU/RJ, lembrou de sua trajetória como pioneira ao afirmar: “eu fui a primeira mulher negra no Conselho de Arquitetura do Rio de Janeiro”. Para ela, a luta é dupla: resistir e existir em um ambiente onde, como destaca, “nós nos sentimos sub-representados, e realmente somos, mas precisamos lembrar da grande quantidade de profissionais negros que atuam no país e que são destaques na sociedade”.

Já o arquiteto Paulo José, vice-presidente do CAU/AP e fundador da União dos Negros do Amapá, reforçou a necessidade de ocupar espaços de decisão e poder político. “Nós temos que procurar os espaços de poder sim, temos que ser deputados, senadores, vereadores”, afirmou. Ele lembrou que, mesmo em regiões preservadas como a Amazônia, “o que temos por baixo da copa das árvores é problema social, problema econômico e problema de raça, de cor”, e destaca que o direito à cidade e à moradia digna também é uma pauta racial.

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