Perfil dos estudantes da UFLA: quase metade são os primeiros da família a acessar o ensino superior

Julho, 2025 – Com o objetivo de compreender melhor quem são seus estudantes e fortalecer as políticas de apoio à permanência, a Universidade Federal de Lavras (UFLA) realizou, em 2024, a primeira Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes. A iniciativa, conduzida pela Pró-Reitoria de Apoio à Permanência Estudantil (Prape), ouviu discentes da graduação presencial, da pós-graduação stricto sensu e da educação a distância, compondo um retrato inédito da diversidade, dos desafios e das necessidades da comunidade estudantil.

A pesquisa buscou mapear as características e necessidades dos discentes dos cursos de graduação presenciais e a distância e também dos discentes dos programas de pós-graduação stricto sensu, oferecendo um panorama detalhado sobre suas condições de vida, trajetórias educacionais, desafios e aspirações. A coleta dos dados foi realizada no final de 2024. Com uma amostra significativa de 962 estudantes dos cursos de graduação presenciais (10,2% do total), 131 estudantes dos cursos de graduação EaD (54,3% do total) e 337 pós-graduandos (18,2% do total), os dados coletados permitem não apenas conhecer a diversidade da comunidade universitária, mas também orientar políticas públicas e ações institucionais voltadas à permanência e ao sucesso acadêmico.

“Esta pesquisa oferece um panorama muito claro da transformação pela qual passamos nas últimas décadas, com a universidade se tornando cada vez mais acessível e representativa da sociedade brasileira. Os dados nos ajudam a agir de forma mais precisa para garantir condições reais de permanência e de desenvolvimento para nossos estudantes”, destaca o pró-reitor de Apoio à Permanência Estudantil, Rossano Botelho.

A pesquisa revela que a UFLA possui um corpo discente altamente diversificado, refletindo a heterogeneidade da sociedade brasileira. A crescente presença de estudantes de grupos historicamente marginalizados atesta o impacto positivo e o êxito das políticas de inclusão e ações afirmativas adotadas pela Universidade. Um exemplo concreto disso é que mais da metade dos estudantes de graduação presencial (52,3%) ingressaram por meio do sistema de cotas, mecanismo instituído pela Lei nº 12.711/2012, o que demonstra a efetividade dessa política na ampliação do acesso ao ensino superior público.

Educação pública como caminho para inclusão

A pesquisa revela que 75,4% dos estudantes de graduação presencial cursaram o ensino médio em escolas públicas, e 40,9% são os primeiros de suas famílias a ingressarem no ensino superior. Entre os estudantes EaD, esse número sobe para 48,1%. Além disso, 73,1% dos graduandos utilizaram o Sisu como forma de acesso, o que reforça o papel estratégico da UFLA — e da universidade pública como um todo — como agente de mobilidade social e de combate às desigualdades.

Diversidade étnico-racial e a importância do debate institucional

A UFLA possui uma composição étnico-racial diversa, com proporção equilibrada entre estudantes brancos (40,85%) e aqueles que se autodeclaram pretos e pardos (40,96%) na graduação presencial. Na pós-graduação, a maioria dos respondentes se autodeclara branca (49,3%), seguida por pardos (28,5%) e pretos (17,5%). O percentual expressivo de estudantes que optaram por não declarar sua raça ou cor em ambos os níveis de ensino indica a necessidade de fortalecer ações institucionais que promovam o debate étnico-racial, especialmente nos cursos de licenciatura, cuja formação exige preparo para lidar com temas ligados à diversidade, equidade e justiça social em sala de aula.

Vulnerabilidade socioeconômica

A renda familiar bruta mensal de 72,4% dos estudantes da graduação presencial, 57,7% da pós-graduação e uma proporção significativa dos estudantes da modalidade a distância (EaD) não ultrapassa três salários mínimos. No caso específico da EaD, 56,5% dos respondentes declararam renda entre dois e três salários mínimos, o que difere do perfil dos cursos presenciais. Essa diferença pode ser atribuída às características dos estudantes da modalidade a distância, que apresentam maior faixa etária e maior inserção no mercado de trabalho. O cenário, como um todo, reforça a importância crítica das políticas de assistência estudantil e a necessidade de otimizar a distribuição de bolsas e auxílios para garantir a permanência e o sucesso acadêmico dos estudantes em maior vulnerabilidade.

Esses indicadores econômicos caminham junto de uma realidade educacional desafiadora. Na graduação presencial, apenas 15,6% das mães e 11,3% dos pais têm formação superior; na pós-graduação, 12,2% das mães e 9,5% dos pais alcançaram esse nível de escolaridade. Entre os estudantes da modalidade EaD, os percentuais são ainda mais baixos: somente 3,8% das mães e 3,8% dos pais possuem formação superior completa, ao passo que 22,9% das mães e 16% dos pais concluíram o ensino médio. Esses dados reforçam o papel transformador da universidade pública e evidenciam que, embora os estudantes estejam alcançando novos patamares de escolarização, muitas de suas famílias ainda enfrentam barreiras históricas no acesso à educação.

Representatividade

Uma das vozes que representa a trajetória de superação e pertencimento destacada pela pesquisa é a da estudante de Engenharia Civil, Raíssa Raidam Lage Albino. Primeira da família a acessar o ensino superior, ela compartilha sua experiência com a universidade pública e com a permanência estudantil na UFLA:

“Sempre sonhei em estudar em uma universidade federal e, desde cedo, acreditei que tinha potencial para isso. Mas a parte que quase ninguém conta é que, na prática, esse caminho está longe de ser fácil e rápido. “Estar aqui hoje me faz sentir que posso inspirar outras pessoas da minha família a também acreditarem no bom caminho que os estudos levam. Tento muito mostrar, pelo exemplo, e com muito esforço, que é possível, sim, ter um ensino de qualidade, uma boa profissão e que, mesmo estando a quilômetros de casa, a UFLA não só se tornou meu lar, como me permite viver muito mais do que eu sonhei.”

Saúde e qualidade de vida

A busca por atendimento médico é baixa entre os estudantes (62,6% na graduação e 49% na pós) mas, mais de 60% já procuraram atendimento psicológico. Além disso, 44,7% relataram uso de medicamentos controlados, o que reforça a necessidade de ações institucionais voltadas à saúde integral dos estudantes.

Papel do Restaurante Universitário

Cerca de 30,7% dos estudantes realizam suas principais refeições no Restaurante Universitário (RU), dado que destaca a importância do serviço dentro da política de permanência estudantil, sobretudo para estudantes em situação de vulnerabilidade.

Acesso à cultura

A pesquisa aponta que a participação em atividades culturais ainda é limitada entre os estudantes da UFLA, tanto na graduação quanto na pós-graduação. Entre os graduandos presenciais, 33,2% afirmaram não participar de nenhuma atividade cultural, enquanto 36,9% relataram participar apenas uma vez por semestre. Já entre os pós-graduandos, esse cenário é ainda mais expressivo: 47,3% declararam não participar dessas atividades, e apenas 3,1% disseram participar com frequência semanal.

Pós-graduação: desafios específicos

A pesquisa revelou que a maioria dos pós-graduandos não é egressa da graduação da UFLA, o que reforça a capilaridade e o prestígio dos programas. Ainda assim, há alto índice de vulnerabilidade socioeconômica, baixa prática de atividade física e uso expressivo de medicamentos controlados, o que reforça a necessidade de atenção a políticas específicas de acolhimento, saúde e permanência para esse público.

Próximos passos

Com base nos resultados da pesquisa, a UFLA delineia um conjunto de ações estratégicas voltadas às especificidades de seus diferentes públicos estudantis. Entre as principais propostas, estão o reforço ao apoio pedagógico, a ampliação dos serviços voltados à saúde mental e física, a implementação de iniciativas de acolhimento e integração para pós-graduandos, o incentivo à participação em atividades culturais e a promoção de debates étnico-raciais e campanhas de sensibilização.

Para o coordenador de Apoio à Gestão, Warlley Ferreira Sahb, ao conhecer o perfil socioeconômico e cultural dos estudantes, a universidade pode identificar os principais desafios enfrentados por eles e, a partir daí, de forma integrada com a comunidade, propor ações para minimizar os obstáculos ao seu desenvolvimento acadêmico. “É essencial conhecer a realidade social dos estudantes, sua origem e suas necessidades, para que a universidade possa oferecer condições adequadas para a permanência estudantil e o sucesso acadêmico de todos”.

“Além de subsidiar a avaliação e a reformulação de políticas institucionais, esta pesquisa reforça o papel da UFLA como uma instituição comprometida com a redução das desigualdades e a garantia de oportunidades equitativas. Ao compreender as realidades socioeconômicas e culturais de seus estudantes, a universidade avança na construção de um ambiente mais acolhedor, onde cada discente possa desenvolver seu potencial com dignidade e apoio adequado”, reforça Rossano Botelho.

Clique neste link e acesse o relatório completo, também disponível no site da Prape

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