Brumadinho: entre a justa indignação e o linchamento moral

Janeiro, 2019 – A sociedade brasileira não suporta mais a repetição de acidentes que poderiam ter sido evitados se a solução técnica mais conservadora tivesse sido adotada. Casos como o de Mariana e, agora, o de Brumadinho, em Minas Gerais, causam enorme sofrimento nas comunidades diretamente afetadas. Vidas foram ceifadas, famílias destroçadas, meio ambiente arruinado.
O medo passou a ser companheiro inseparável das populações que podem, no futuro, vir a ser afetadas pelo eventual rompimento de barragens semelhantes às de Brumadinho, que estão espalhadas pelo país. É insuportável conviver com essa situação.
A justa indignação da sociedade brasileira abriu caminho, no entanto, para iniciativas marcadas por um inegável desejo de vingança – e não de Justiça.No lugar de promover uma apuração independente, rigorosa e técnica, busca-se a conveniente escolha de “culpados”. Pouco importa que não sejam eles os donos da barragem, nem sequer os seus operadores ou construtores.
Não se leva em conta que o ‘mal’ está na raiz, ou seja, na escolha incorreta da solução técnica mais adequada e conservadora para construir uma barragem de rejeitos. Ao promover o linchamento moral de dois engenheiros da empresa Tüv Süd Brasil, que atestaram a segurança da barragem citada na data de 26 de setembro de 2018, não estamos pensando no futuro, não estamos trabalhando para que as barragens de rejeitos sejam construídas segundo outros modelos e técnicas, não estamos exigindo que as atuais barragens, com alteamento a montante, sejam descomissionadas. Estamos promovendo um linchamento moral e, quem sabe, a destruição da carreira de dois brilhantes engenheiros geotécnicos.
É evidente que as responsabilidades devem ser apuradas e os responsáveis, punidos. Mas não se faz isso a priori, elegendo culpados que são, neste caso, de forma não surpreendente, os elos mais frágeis dessa corrente. Em um acidente como este de Brumadinho, a apuração das causas será consequência de estudos exaustivos e profundos, realizados por profissionais e empresas independentes, que desfrutam de insuspeitada reputação.
Os engenheiros André Yassuda e Makoto Namba, que estão em prisão provisória, desfrutam de grande credibilidade no meio técnico e no universo da geotecnia. Ambos construíram uma longa e vitoriosa carreira durante a qual prestaram excepcionais serviços à geotecnia brasileira. É assustador observar que pessoas e profissionais dessa qualidade sejam jogados à fogueira do ódio público, com o apoio até de entidades que deveriam defendê-los dessa moderna inquisição.
Não queremos impunidade. Queremos Justiça. Queremos o devido processo legal. Queremos respeito aos inocentes até que eles sejam declarados culpados depois da correta apuração dos fatos. Queremos que as melhores técnicas sejam aplicadas à construção de barragens e que as barragens com alteamento a montante, hoje em operação, sejam eliminadas.
Vamos crescer como país fazendo Justiça e não promovendo o linchamento de reputações.

ABEG – Associação Brasileira de Empresas de Projetos e Consultoria em Engenharia Geotécnica

31 de janeiro de 2019

 

A ABEG – Associação Brasileira de Empresas de Projetos e Consultoria em Engenharia Geotécnica é uma associação sem fins lucrativos fundada em 27 de novembro de 1997 que congrega empresas especializadas no desenvolvimento de projetos de fundações, contenções, taludes e sua estabilidade, terraplenagem, pavimentação e drenagem, geotecnia ambiental, túneis e barragens.
Site: www.abeg.com.br

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